sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Os dois transplantes


Conversando com a psicóloga do hospital, ela esteve projectando um pouco dos primeiros momentos de adaptação em casa, sim já me cheira a casa.

A longa estadia aqui no hospital, o processo de espera traumática por que passei e o transplante propriamente dito, para além dos aspectos físicos apresenta outros. Não de mudança de personalidade, naturalmente, mas muitas vezes de visualização da vida e dos seus valores de uma forma um pouco mais adaptada à realidade que se viveu, e que se vai viver nos próximos meses em casa, que só serão tendencialmente normalizados com a passagem do tempo, e a integração numa vida como era dantes. Demora o seu tempo.

Era como se o transplante físico fosse acompanhado de outro, do foro psicológico, que pode nas diversas pessoas submetidas a estas operações melindrosas, ter várias características.

Falou-me de vários exemplos, incluindo pessoas que rejeitam a sua nova vida, mas um dos aspectos que referiu é por exemplo "a necessidade de agradecer".

Agradecer às pessoas que nos acompanharam, mas sobretudo agradecer a "alguém" que não sabemos quem é, mas para nós que entendemos que passámos por um processo com uma grande lógica, nos parece estar em dívida. Daí uma aproximação de uma espiritualidade nova, ou a recuperação de uma perdida, mas que faz parte da reconstrução da nossa parte mental, e essa parte também tem de ser resolvida dentro da cabeça.

Já tinha pensado nisso aos longos destes meses quando sentia necessidade de agradecer o nascer do sol do dia seguinte, e essa dádiva me era concedida. Veremos como tal se resolve dentro da cabeça.

PS: penso que dia após dia as coisas vão melhorando, a autonomia é cada vez maior, sinto um cheirinho ao Alentejo e ao Algarve.

4 comentários:

  1. Caro Amigo Carlos,
    Eu acho que estou a ser muito chata, mas cá fora nem sempre é facil arranjar com quem conversar e os seus post são uma "provucação".São bons.
    Ao acompanhar toda a sua doença, tenho pensado muito no que hoje refere.
    A doença, a espera e agora a "nova vida", tem lhe dado motivos e tempo para repemsar muito da vida.
    Acho que não vai haver mudança de personalidade, mas melhoramento da mesma.
    O Carlos teve uma "oportunidade" de olhar a vida e de se aperceber do que é realmente importante e do que claramente não vale a pena.
    Arregueiros, como dizia Saramago.Pormenores.
    O processo de recuperação, o bem estar que se vai adquirindo, quando se esteve tão proximo do "fim" leva ao agradecimento.
    Ao dador, aquele que deu a vida para o bem estar adquirido ( qual Cristo que deu a Vida por nós)e ao Altissimo, Aquele que parece que decide (será?).O que parece estar a dar uma outra oportunidade.
    E por ser entendido como tal(outra oportunidade) tem que ser vivida da melhor forma, agradecida, uma nova e grande responsabilidade.
    "Se ainda por cá ando,agora tenho que fazer isto mesmo bem feito".
    Deveria ser o nosso pensamento, sempre.
    Mas só alguns atingem esse patamar de conhecimento.
    Parabens!! Conseguiu.
    Felicidades para uma nova etapa.
    Um Abraço,
    Ana

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  2. Ana Maria, agora se Drª, não está a ser chata não, bem pelo contrário, os seus posts tem-me dado uma enorme ajuda em todo este processo. É uma voz que "ouço" aqui, entre as outras dos meus familiares e amigos, mas não esqueço que é a minha médica de família também, o que atribui a essa voz uma outra tonalidade.
    Obrigado por tudo.

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  3. Caro Amigo Carlos,
    Considere a Ana Maria, como uma "Médica na Família" e dê a essa voz o melhor tom, aquele que melhor o possa ajudar.
    Um Grande Abraço,
    Ana

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  4. Olá Carlos... o Algarve espera por si, e dentro de poucos meses, o clima irá melhorar e vai poder passear, ... tão bom!!
    É tão bom tê-lo aqui!
    Beijinhos
    Claudia

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