quinta-feira, 3 de março de 2011

Li e falou comigo

Ao terceiro dia

Não sei ao certo onde estaria
quando de tanto bater
o coração já nao batia.
Era talvez o lugar onde nada principia
e há um contínuo escurecer.
Ali eu estava sem estar
ali eu era sem ser
ainda aqui e já não
sem sentidos nem sentido
que de tanto ter batido
não batia o coração.

Mas de súbito acordado
vi que mais que um acordar
era como que um saltar
do limbo para este lado.

De onde vinha eu não sabia
mas estava aqui e já não
onde nada principia.
E então senti o correr
desses rios de Sião
por onde passa o bater
oculto do coração.
Naquele terceiro dia
em que vindo do não ser
eu de mim mesmo nascia.

Poema de Manuel Alegre

2 comentários:

  1. O Manuel Alegre é um poeta e um político de coração partido, mas sempre retemperado, só que muito melhor poeta do que político, é que a poesia e a política são, ambas, artes de incoerência e maleabilidade discursiva por natureza, mas a primeira é quase sempre assumida de acordo com essa sua natureza e a segunda quase sempre assumida fingindo que ninguém se dá conta disso.
    E para que te vás recompondo das doses estupidificantes de tvismo em demasia, aqui fica mais uma dica:
    http://atirateaomar.blogspot.com/2011/03/te-borro-del-feisbuh-la-ogra-que-todo.html
    Abraço e melhoras rápidas.

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  2. Concordo. Como poeta, diria até como poeta na esquerda, interessante. Como político está sempre dividido entre utopias. Mas neste momento muitos que o queria fora já conseguiram. Vi o link, é de morrer a rir. Animou-me.Obrigado.

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