terça-feira, 6 de março de 2012

Os novos anos 60

A primeira vez que fui a Paris, em 1973, com o Inter Rail, lembro-me bem da viagem de comboio, cheio de emigrantes, a partilhar garrafões de vinho, canja de galinha em grandes panelas, guisados, broa, a dormir no chão de um comboio apinhado, casas de banho entupidas de excrementos, em cima das tampas das sanitas, alguns dormiam sentados, apesar do cheiro insuportável. Em Paris e noutros locais que visitei, via-se a emigração a abrir valas nas ruas, que para além de portugas abrangia espanhóis, italianos, numa época em que a emigração do Magreb ainda era insípida.
Vem a propósito da reportagem emitida ontem na TVI, "Reporter TVI", acerca da emigração para a Suiça, um antigo El Dorado, hoje foco de enganos, para muitos, que só a caridade de alguns permite assegurar a sopa e um tecto que não seja debaixo das temperaturas de 18 graus negativos.
E as imagens são, infelizmente, parecidas com as que vi há 40 anos atrás. E já lá estão também os espanhóis e italianos, durante anos afastados destas lides, e tidos por povos ricos, nomeadamente os italianos.
Imagens fortes de gente enganada por engajadores, portugueses sem escrúpulos que por uns 100 euros para "tratar da papelada", fazem gente abandonar as suas terras sem nada, e ir à aventura, confiantes numa palavra dada. E continuam a publicar anuncios a publicitar o que não existe, empregos a ganhar 2000 euros quando os desempregados e indocumentados abundam no local sem conseguirem nada para assegurar a sobrevivência, e vivem de esmolas em abrigos nucleares desactivados. Impressionantes imagens de gente que se apeia antes da fronteira para a passar a salto, no meio da neve, pois nem documentos válidos possuem. Imagens de novos anos 60 que jamais imaginava pudessem repetir-se numa Europa "desenvolvida".
Uma bela reportagem que vale a pena rever, pois deve estar disponível no You Tube.

2 comentários:

  1. Amigo Carlo,
    Impersionante, mas mto triste.
    Pq dp investem os pais e alguns trabalham para tirar uma licenciatura, de sonho e de vocação e dp ficam no desemprego.
    E são mts, mesmo mts.
    E a resposta dos nossos governantes, bradada pelo Sr. Primeiro Ministro, é essa, a imigração.
    Que presente é este e que futuro será o nosso.
    Faz-me pensar, temer e ficar bem triste.
    Tem que haver outra solução.
    Não pudemos ficar de braços cruzados a ver o pais regredir tanto.
    Já não somos os mesmos.
    Abraço,
    Ana
    PS: Dp de ver tantos curriculos de jovens licenciados para emprego e ver amigos meus licenciados, ficar no desemprego dp dos 45 anos, com pouca hipotese de arranjar novo emprego na mesma área, deixei de ralhar com os meus rapazes para estudarem.

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    1. Fiquei chocado com a reportagem que vi, muito bem feita, e recordei-me desse episódio da minha juventude. Na realidade tb não nos podemos render, e os estudos não sendo passaporte para nada, são uma forma de ter um lugar mais à frente na fila dos desempregados... pois que será daqueles que nem têm estudos nem qualquer qualificação profissional ?
      Agora emprego implica investimento, e nesta altura quem investe neste pobre rectângulo?
      Cumprimentos
      CR

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