quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Um piano para cavalos altos

Estava a ler desde Maio, altura em que assisti ao lançamento deste livro, em Lagoa. Entretanto outras coisas se interpuseram, outros livros também. Sandro é português, embora com nome vindo do Atlântico. Na realidade nasceu na Rodésia, já não se usa, agora diz-se Zinbabwé, e só se conhece pelo sinistro Mugabe. Estabilizou no Algarve e diz quem o conhece que é um poço de talentos, que vai das artes gráficas, ao teatro, declamação e desde há algum tempo a escrita (alguns pude confirmar ao vivo). Tem dois livros publicados, sendo este o segundo. De maior fôlego, e dimensão, está dividido em muitas dezenas de pequenos capítulos, que aparentam quase um livro de contos. O ambiente é concentracionário, de uma banda desenhada negra, em que as personagens não têm nome, mas função adjectivada, Ministro Calvo, Médico Loiro, Prostituta Anã, de um ar irrespirável, numa sociedade dividida, numa cidade murada, onde as zonas estão coloridas de acordo com a "qualidade" dos cidadãos, uns mais que outros. O livro emerge nesta imundice, pântano onde as personagens se movimentam como robots de um destino prefigurado, assim neste ambiente orwelliano, o autor não gosta desta comparação, a acção decorre e pelo meio passam-se coisas "inaceitáveis" que são normais. Não recomendado a pessoas sugestionáveis, não fácil de ler, embora se possa ler como um livro de contos, contos tenebrosos. Sandro William Junqueira, e um cavalo que foge, carregando duas moscas, e um menino que está preso ao piano, para aprender a tocar Satie.

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