segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Ainda existe o Inter Rail ? (1)

Há 39 anos iniciava na Estação de Santa Apolónia o meu primeiro e único Inter Rail. Rumo a Paris, o primeiro e único Inter Rail, a primeira de muitas visitas à cidade Luz, que ainda hoje me maravilha. Estavamos na véspera de um dia que iria marcar o mundo, a queda e morte de Allende, e a subida ao poder de uma figura sinistra que marcaria a História pelas piores razões, Augusto Pinochet. 11 de setembro de 1973, golpe no Chile. Haveria de chegar a Paris e veria as reacções do mundo ao golpe, mundo que nada tinha a ver com o "portugalzinho" de que tinha acabado de sair e ainda vivia o estertor do marcelismo. O trajecto ía de Santa Apolónia, 12h55, até Irun, onde se mudava de comboio, em Hendaye, a mesma estação mas já França, e daí a Paris Austerlitz daria para chegar pelas 16h00, isto é mais de 24 horas, de uma experiência nauseabunda, num comboio onde se dormia no chão, se bebia vinho pelo garrafão, se levava canja de galinha e arroz de cabidela, e se comia umas sandes de torresmos sentado na sanita do WC, atascada e a pedir limpem-me ... Por toda a linha da Beira Alta os emigrantes entravam, e sentavam-se onde calhava pois o comboio atascava de gente, e dificilmente velhotas e crianças tinham lugar, quanto mais os adultos. Pela meia noite chegava-se a Vilar Formoso, a PIDE vinha cumprir a missão de vigilância, os mais novos eram vistos por dentro e por fora, pois estavam em idade militar e não podia aceitar-se fugas ao dever patriótico. As cadernetas militares vistas à lupa, as autorizações de saída apalpadas, como ouro. Passava-se a Fuentes de Oñoro, e mantinha-se tudo. O comboio, agora com duas máquinas a vapor, rumava agora veloz por terras de Espanha e tudo seguia igual. Gente combatia o sono. Jogava-se a bisca lambida ou a sueca e alguns já cantavam o "zumba na caneca". Era este o Portugal "Low Cost"...

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