quarta-feira, 19 de março de 2014

O meu 25 de Abril (24)

 Todos tivemos de um modo ou de outro na vida o nosso "momento che guevara". Um momento em que nos deixámos "apaixonar" por essa imagem mitica, essa visão da revolução romântica, solidária e amigável, poder ser revolucionário no seu quarto, onde posters e imagens substituem práticas mais perigosas na época. Eu também tive esse momento onde fui acompanhado pelo meu grande amigo na altura. Estávamos pelo ano de 1970, a informação de Cuba era pouca, no entanto Portugal até tinha relações diplomáticas com Cuba. Infelizmente quando chegou o "momento guevara" já guevara tinha morrido, havia pouco tempo, pois foi "executado" nas florestas da Bolívia, em 9 de Outubro de 1967. Lemos muito do pouco que havia, eu tinha comprado na Livrelco, de que era sócio, um livro que na altura deu grande brado nas esquerdas, edição brasileira, proibidisimo, "Revolução na revolução", de Regis Debray, intelectual francês, mais tarde preso na Bolívia e que escreveu sobre os métodos, organização e forma de actuar das guerrilhas na América Latina, algo que Marx ou Engels não tinham previsto, pois tudo nestes teóricos apontava para a luta de classes, da classe operária contra a exploração capitalista, mas nas florestas da Bolívia ou da Colômbia não havia nem classe operária, nem capitalismo como eles o entendiam, pois a falada acumulação primitiva de capital nem sequer tinha ocorrido. Assim os métodos seriam outros, e fundados sobre os direitos dos camponeses à terra, era então preciso uma verdadeira revolução no que se sabia da revolução, já neste altura anquilosada nos países ditos da "cortina de ferro". Aos jovens, como eu, arrepiava só de pensar no que eram os regimes burocráticos e autoritários do leste europeu, a intervenção na Checoslováquia tinha mostrado a sua face hedionda, e a imagem irreverente, jovem e solidária da revolução cubana atraía-nos como atraiu os intelectuais europeus que deram durante muitos anos, talvez demais, o beneficio da duvida a Castro, desculpando as atrocidades que já se conheciam, mas que se levavam à conta de propaganda imperialista. Como estávamos enganados !!! Mas esse fascínio que durou até os primeiros anos do Técnico, encheu os nossos dias de sonhos românticos de Sierras Maestras em Castro Daire !!! No Técnico acabámos por ser informados que Castro era igual a Brezhnev, e que Cuba era uma ditadura insuportável, tudo menos aquele paraíso que nos vendiam no merchandising da revolução. O meu amigo e eu passámos a papel quimico o livro de Regis Debray, para que os nossos amigos o tivessem. Perda de tempo. Mais tarde o próprio Regis Debray renegou tudo o que escreveu. ( PS: para ser simpático com as minhas boas memórias daqueles dias, ilustro este post com uma das cançoes mais bonitas escritas para Cuba, e é portuguesa, dos Dead Combo, "Cuba 1970", lindíssima. )

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