sexta-feira, 28 de março de 2014

O meu 25 de Abril (30)

A "autorização de saída" era imposta a todos os jovens que pretendiam viajar para o estrangeiro, quando estes se encontravam em idade militar, isto é a partir dos 18 anos. Assim quando no verão de 1972 imaginei poder vir a fazer uma viagem ao exterior, pois era preciso passar além dos Pirinéus para respirar, era necessário obter o passaporte, o qual era passado por periodos curtos, não é como agora, e para sair caso se estivesse em idade militar, era preciso obter uma autorização, a qual era pedida no DRM, Departamento de Recrutamento Militar, e era concedida, ou não, após análise caso a caso. Era uma forma de ter a "pata" sobre os jovens, procurando dificultar a sua saída, dado o risco de não voltarem, por isso a emigração tinha de se fazer "a salto". Esse documento tinha de acompanhar o passaporte na saída, e sem ele seriamos retidos na fronteira. Aí a PIDE, que também controlava as fronteiras, ficava com o documento de autorização, o qual era válido apenas por 3 meses, e devolvia uma parte destacável e que seria guardada religiosamente pelo "viajante", para devolver no acto de regresso, que tinha de se fazer dentro do prazo de validade da dita autorização. Depois a PIDE casava o documento de saída com o de entrada para se assegurar que o jovem não se tinha "pirado", sendo nesse caso considerado "refractário" e caso regressasse seria preso e incorporado à força no serviço militar. Comigo aconteceu que tendo pedido a autorização não a utilizei pois acabei por não sair. Passado alguns meses uma brigada da PIDE visita a minha casa, onde por acaso não estava, mas inquiriu os meus pais sobre qual tinha sido o meu destino, e se tinha saído do país. Claro que ficaram assustadissímos, pensando "no que é que o meu filho anda a fazer", pois era uma visita indesejável a qualquer família portuguesa. Desta nada aconteceu, mas fiquei bastante desconfiado, pois embora não tivesse qualquer actividade política, era um estudante activo, e que a nível estundatil procurava participar dentro das minhas possibilidades, pois agora trabalhava também, nas actividades do Movimento Associativo. Afinal a PIDE controlava mesmo, e não só os "comunistas" era tudo o que mexesse, todos os que puxassem pela cabeça, todos os que quisessem intervir, ver e participar "out of the box", como se diz agora, fosse quem fosse. Afinal todo o país parecia mesmo uma prisão.

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