sábado, 1 de março de 2014

O meu 25 de Abril (5)

Estavamos ainda no ano de 1968, e o Maio prolongou-se por mais alguns meses de agitação, até que a "França profunda" recupera do susto. A minha passagem pelo IIL também não se prolongaria, não me adaptando à  "bandalheira" que era o seu sistema de ensino totalmente obsoleto. Estava decidido, iria voltar ao  Liceu de Oeiras, completar o 7º ano e depois se veria. Mas o ano não terminava por aqui, e uma grande surpresa estava reservada. E essa surpresa esta ligada a uma simples peça de mobiliário, uma cadeira. Foi no dia 3 de Agosto de 1968, já estávamos de férias, ía-se à praia na Costa da Caparica, ouvia-se rádio, entretanto a televisão a preto e branco apareceu lá por casa, mas a programação começava às 19h30 e antes da meia noite, o hino nacional e a bandeira verde e rubra, ou para ser mais exacto, cinzenta clara e cinzenta escura, fechava a emissão, depois de umas notícias banais acerca de inaugurações, desfiles de moda, e discursos de ministros em cerimónias de abertura ou encerramento, e a evocação inevitável dos séculos de História e da grandeza do país, sempre bem, contra outros regimes, negros, comunistas ou social democratas, sempre mal e sem visão do mundo. Íamos neste rame-rame, até que nos dia 3 de Agosto, um comunicado oficial, indicava que um acidente sério tinha ocorrido com o "senhor presidente do conselho". Que estava internado e que amanhã haveria um boletim médico. Surpresa geral ! Durante semanas, manifestações de consternação, visitas de autoridades, artistas, povo preocupado com o "estado de saúde do senhor presidente do conselho". Na altura tudo se tratava através de comunicados oficiais, o que não estava nos comunicados não existia !!! Mas quando havia comunicado havia problema. Era o caso, embora ninguém soubesse com verdade o que se passava no Hospital da Cruz Vermelha onde "sua excelência", como era referido na TV, estava internado, a realidade é que tudo indicava que estivesse mal, após queda de uma cadeira, no forte da Barra, em S.João do Estoril, onde passava férias. De resto ninguém notava nada. Nada se dizia, para além de umas referências breves na notícias. Se algo se passava nos bastidores, os portugueses não sabiam, e eram os "mentideros" que referiam que poderia ser mais grave. Durante cerca de dois meses, só a 27 de Setembro seria substituido por Marcelo Caetano, não havia primeiro ministro, mas também não se sentia a falta. De resto tudo normal, até que o "mais alto magistrado da nação", Américo Tomás, fala à nação, e informa que iria substituir o "senhor presidente do conselho", e nos apresenta o Prof. Marcelo Caetano. Para os portugueses tanto fazia, a política não era assunto que lhes dissesse respeito.

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