domingo, 6 de abril de 2014

O meu 25 de Abril (37)

É por estas e por outras que a partir do 25 de Abril votei sempre em todos os actos eleitorais não falhando um unico. Não votei sempre do mesmo modo, mas votei. Não gostei de muito do que ouvi mas acompanhei todas as campanhas eleitorais, e apesar de todas as diatribes, aldrabices, aproveitamentos, disparates, incompetências, irresponsabilidade, conversa fiada, continuo a respeitar a política e os políticos, onde há gente boa e gente má como em todas as actividades da vida. Eu que acompanhei as eleições de 28 de Outubro de 1973, e sei bem o que eram as eleições desse tempo, e o que terá custado dar ao povão a liberdade de voto tenho dificuldade em deitar tudo borda fora. Foram as primeiras eleições totalmente realizadas pelo regime de Marcello Caetano e onde se poderia "testar" a sua política que chamava de "evolução na continuidade", que era afinal o salazarismo com uma pitada de conversa fiada. Desde o acesso aos cadernos eleitorais limitado, e sabe-se a importância que tinham pois os boletins eram enviados aos eleitores, a exclusão de candidatos, o periodo limitado de campanha, durante o qual havia uma abertura limitada a outras opiniões, mas essas quase não tinham expressão pública, pelas imposições da censura, as perseguições, as detenções por delito de opinião, as sessões vigiadas, canceladas, e o risco que corria quem se expressasse de forma livre. Participei nalgumas, estive algumas vezes na sede local da CDE na Cova da Piedade, trouxe e distribuí alguns comunicados, mas tudo era semi clandestino, apesar de se estar em "período eleitoral". Que diferente do que tinha observado um mês antes na Suécia, onde tinha estado a fazer o Inter Rail. No final as dificuldades eram tantas e os obstáculos postos de tal ordem que os responsáveis acharam, e bem, que não poderiam validar tais procedimentos participando nas eleições e como tal colaborar numa aparente normalidade com os desacatos de uma sistema repressivo, ditatorial e totalmente incapaz de fazer coisa tão simples e tão vulgar na Europa dessa época, eleições livres. Assim os candidatos da CDE, uma Comissão Democrática Eleitoral, que tinha por detrás o acordo do PCP com o PS, e que não podiam surgir pois os partidos estavam ilegalizados no país, acharam por bem desistir e deixar o regime a falar sozinho, o que foi celebrado pelos candidatos da ANP, de onde já tinham sido expurgados os deputados da ala liberal, como reconhecimento de derrota. Elegeram assim os 150 deputados da Assembleia Nacional  e tiveram 1393294 votos em mais de 8 milhões de portugueses a maioria deles de pobres funcionários públicos que tinham mesmo de votar senão seriam apontados a dedo, de legionários e outras "forças vivas" . Coitados, poucos meses mais tarde veriam a dimensão da sua "vitória" !!!

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