sábado, 18 de outubro de 2014

Sábado

Era sábado e estava sol, tal como hoje. Dis 18 de Outubro, mas de 1975, um ano agitado, em que tudo acontecia e as esperanças estavam no auge. Acabado de fazer 23 anos, o curso ainda a meio, tinha previlegiado o trabalho, mais que o trabalho, o estar no trabalho, condição importante para estar activo naquele ano de brasa em que tudo era política, em que o amanhã não se adivinhava e o mês seguinte, podia ser tudo, pois tudo estava em aberto. As coisas compunham-se com muito pouco, e o pouco era suficiente, pois a ambição pessoal era nada, tudo se centrava no colectivo, ou disso estavamos convencidos. Por isso casar, sendo importante, era apenas mais um passo numa aproximação intima, amável mas muito ingénua, pois eramos levados por uma grande ingenuidade, uma grande vontade de viver em conjunto, mas não de uma forma isolada e voltada para o interior. A vida naqueles anos era uma exaltação, um pretexto de intervenção, e sê-lo-ía por mais algum tempo. Por isso tudo foi muito simples, mas bonito, claro que sim. Foi assim um sábado irrepetível, e cumpriu-se aquilo que ali ficou acertado, apesar das palavras naquele tempo já valerem pouco, "até que a morte os separe".

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