sábado, 4 de julho de 2015

Crónicas de um Verão Quente (2)

Mas afinal quando começou esse Verão ?  Pois para mim, começou ainda no Inverno. nas minhas contas no dia 11 de Março de 1975, quando um "golpe de estado" foi gorado, e Spínola definitivamente se afastou para o mundo da ilegalidade, ou mesmo criminalidade. Definitivamente já termina no Outono, para ser exacto no dia 25 de Novembro de 1975. Lembro-me desse dia como se fosse hoje. Estava a iniciar o curso para Técnico de Exploração dos CTT, numa sala no Edificio dos Restauradores, e ouviram-se alguns tiros de canhão que foram disparados na Calçada da Ajuda, os canhões comandados por Jaime Neves. Nesse dia, sabemos hoje, morria definitivamente o sonho do PCP de tomar o poder usando a esquerda militar, e dos ML de construir o poder popular, baseado numa utópica representação do poder das comissões de trabalhadores, moradores, entre outras, e com o apoio... da mesma esquerda militar. Para mim foi um sonho real em que, parecendo impossivel, acreditei, e foram meses felizes aqueles em que a utopia parece a realidade, contada através de comícios, manifestações, reuniões, boicotes, greves, desfiles e outras figuras de estilo do anedotário da revolução popular. A UDP era uma das maiores organizações da esquerda revolucionária, tinha um deputado, Afonso Duarte e mais tarde Acácio Barreiros. Funcionava por núcleos, regionais ou de empresa, e lembro-me que no Núcleo da UDP dos CTT, chegaram a haver para cima de 40 pessoas, todas sindical e socialmente activas. A UDP foi também uma das derrotadas do 25 de Novembro. Numa lógica política de antantes, a UDP era uma frente, sendo que na sua base se encontrava um partido, que a UDP também era, mas aquele de ideologia comunista, mas não soviética, o PCR, que funcionava ainda numa clandestinidade algo ridícula. Só mais tarde o PCR se legalizou e acabou mesmo por concorrer a eleições sem sucesso. Durante todo o periodo do PREC a UDP sempre foi atacada sobretudo pelo PCP, e pelo MRPP, este disputava o mesmo "público", e participou ou promoveu uma boa parte das demonstrações desse período. Disso falarei em próximos posts. Na foto três dos actores principais do "fim do sonho lindo", Ramalho Eanes, Jaime Neves e Vasco Lourenço

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