quarta-feira, 8 de julho de 2015

Crónicas de um Verão Quente (3)

A inconsequência da UDP e dos grupos ML era total. Aí tiro o chapéu ao PCP que sempre se comportou como um verdadeiro partido, uma instituição que sabia que as circunstâncias passam mas os ideais que defendem prosseguem, e poderiam perder muitas batalhas, esperar 100 anos se for preciso mas ganhar a guerra. No dia 11 de Março de 1975, enquanto os grupos a que pertencia gritavam contra os capitalistas, e faziam manifestação para "nem mais um soldado para as colónias", atacavam as nacionalizações, que chamavam "capitalismo de estado", faziam ocupações, o PCP nacionalizava, ocupava lugares na administração, nas empresas do  estado, a preparava as eleições de 25 de Abril de 1975 que julgavam ganhar. Na realidade, para desânimo dos comunistas e de toda a chamada esquerda revolucionária, o PS, a que chamava-mos um "partido burguês" ganharia as eleições em toda a linha, e a partir daí Mário Soares desenharia com redobrada legitimidade toda a estratégia contra o Governo de Vasco Gonçalves, de apoio aos militares moderados e culminaria com o 25 de Novembro. Entretanto o Verão aquecia, além da meteorologia desse ano prever calor, politicamente era tórrido, o país dividido em dois, as sedes do PCP ardiam sobretudo no Norte, no Alentejo as ocupações de herdades eram agora acompanhadas pelos militares de esquerda, por todo o lado floresciam as comissões de trabalhadores e moradores. Entretanto nós na UDP íamos dando "uma no cravo outra na ferradura", isto é, apoiar e promover essas lutas com as bases disponíveis, mas sempre numa lógica anti-PCP, o que reconheçamos era dificil de explicar e de entender pelo povo, que via nesse partido a imagem de muitos anos de luta contra o regime, vá lá explicar porque lhes chamava-mos "traidores", "revisionistas", "social fascistas" e outros mimos...

Sem comentários:

Enviar um comentário