quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O 25 dos outros

Hoje é dia 25 de Novembro uma data que dirá pouco ou nada a muita gente. Eu diria que cada um tem o seu 25, alguns têm os dois, outros nenhum, muitos mudaram de 25. Para mim se voar até à minha juventude, na altura tinha 23 anos, bigode, fumava uns cigarritos ( só tabaco ) e tinha casado há pouco mais de um mês, diria que este foi "o 25 dos outros", daqueles que estavam no outro lado da barricada. Recém casados, erámos os dois militantes da UDP, a nossa actividade centrava-se no nosso local de trabalho, que era nos CTT no Terreiro do Paço, a praça que era o local de todas as manifs, rivalizava com o Rossio, vendas de jornais, lembro-me de estar a vender a "Voz do Povo", na porta que hoje se chama Pátio da Galé, e discussões políticas acaloradas, pois a venda da chamada "imprensa revolucionária" era sobretudo um pretexto para "agitprop". Sentia-se no ar que o chamado PREC se encaminhava para uma mudança qualitativa, e apesar de tudo tenho de reconhecer que não acreditava a cem por cento na possibilidade de uma mudança para o que na altura chamava-mos "poder popular". No dia 25, ía mudar coisas na vida, era o primeiro dia de um curso que faria a minha mudança para "técnico de exploração", como se chamava, e apresentei-me nos Restauradores para começar esse curso, e ouviu-se durante a manhã alguns disparos de obuses, que ocorreram, saberiamos depois, na Calçada da Ajuda. Nós da extrema esquerda éramos cautelosos, pois como se dizia "entre fascistas e social-fascistas não havia escolha", e para nós o golpe começou por ser da "esquerda militar" afecta ao PCP, a que se seguiu a reacção dos militares afectos ao "grupo dos  nove". Não era o nosso 25, era o dos outros. Hoje reconheço que não estaria do lado certo, mas tudo tem o seu tempo. Aquele era o tempo de sermos "revolucionários", o tempo de acreditar, o tempo do coração.

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