domingo, 1 de novembro de 2015

Valor da vida

Hoje dia primeiro de Novembro temos o hábito de olhar para os nossos mortos, embora seja amanhã o chamado "dia dos fiéis defuntos". Para quem tem pessoas próximas que perderam a sua vida, e quem não tem, é um dia de especial recordação e de saudade. Nada nem ninguém os substitui, pois a vida humana é única, e tem para nós um valor simbólico imenso, que mal entendemos aquelas sociedades onde o valor da vida parece pequeno, e ela seja retirada por minudências. Parece até que nunca o valor da vida foi tão pouco como agora, pois como se compreende os actos de um Estado Islâmico, ou a atitude de governos face ao drama dos refugiados. Morreram pessoas muito próximas cujo trajecto até à morte acompanhei, mas nenhuma experiência ultrapassa a nossa própria, de lidar intimamente com a possibilidade real de perder a vida. Há cinco anos estava exactamente nesse ponto em que as hipóteses de sobreviver eram poucas, pois estava preso à vida pela possibilidade de um acontecimento improvável e indesejado ocorrer, no caso, a morte de outra pessoa, e só essa morte me podia dar vida, e não apareciam voluntários. No final a minha vida acabou por resistir, pois alguém que não contava, foi antes de mim para junto de um Deus que não sei se escolhe, mas se escolhe escolheu bem. Hoje parece que a minha relação com a morte é diferente, o medo desapareceu, o medo do sofrimento esbateu-se, pois troquei a morte por um sofrimento permanente, mas que se tem de aceitar em nome de outros valores maiores. Assim neste dia o meu pensamento vai para aqueles que não tiveram escolha.

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