segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Weekend (apresentação 41)

Era uma vez uma neta que veio passar o fim de semana com o avô e a bisavó. Consigo trouxe a mãe a tia e um cão pachorrento, com ar ameaçador, embora pacífico, uma carrinha preta, e muita vontade de agradar. De inicio parecia que nem o conhecia, de forma que no colo da mãe se afastava do velho avô que a queria beijar. Mas vá-se lá saber, o sangue rapidamente permite reconhecer os seus, e aconteceu o "coup de foudre" ! A neta chamou vô, e este logo lhe quis pegar, no que ela correspondeu abrindo e fechando as mãozinhas, para que, Upa, amaranhasse pelo avô acima como alpinista em busca do cume. E pronto, quebrado o gelo, a partir daqui o avô passou a ser a novidade da semana. Pegou, caminhou, fez carícia, brincou ao esconde esconde, viu dar banho e ainda molhou, e a doce F a tudo correspondeu com um amplo sorriso, um olá permanente e um adeusinho sempre que voltava as costas. Uma doçura, uma afectuosidade permanente num corpo pequenino e fofo. Claro que eu
entrava em grande felicidade pelo contacto com tanta energia positiva. Em resumo, cansei mas adorei.

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Estranho amanhecer

Digno de um filme de Hitchcock a preto e branco, amanheceu com nevoeiro misterioso e o sol não rompe ainda. Só falta de algum lado aparecer um bando de gaivotas endiabradas atirarem-se sobre as pessoas, e arrancarem os seus pertences, cravarem as unhas na carcaça, ou atirarem com a mine para o chão. Estou apenas a sonhar com um filme, como num filme. A realidade é que depois do nevoeiro virá o calor de brasa que  ainda prevalece. Não julgues um dia pelo seu amanhecer. Ainda tem muita pedra pela frente.

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

ATLsauro

Hoje último dia da minha intervenção no ATL de Verão, em Garvão, depois de referir animais em vias de extinção, como camaleão, o priolo ou o peixe palhaço, trabalhámos os já extintos dinossauros, Desta forma procuramos desenhar e pintar dois dos mais conhecidos, um deles carnívoro, o T Rex, e outro herbívoro, o braquiosauro, assim uma vaca gigante. Um tirano e um pachorrento comedor de verduras. Não foi fácil, pois a fotocopiadora decidiu sabotar, mas lá conseguimos trabalhar, dentro das condições, e com muito entusiasmo, mas também algum sono característico da segunda feira lá fomos desenhando e pintando. No final saíram trabalhos que aqui exemplifico. E por este ano encerrei, um grupo simpático, meninas e meninos muito bonitos, que eu agora que sou avô babado ainda mais aprecio. E também o trabalho da educadora Daniela que muito organizou e disciplinou este grupinho.

domingo, 20 de agosto de 2017

Palavras (Apresentação 40)

Chegou agora a altura das palavras. Seguindo o seu próprio dicionário e as orientações dos progenitores sempre prontos a enriquecer o vocabulário, a neta prossegue o seu destino de "esponja inteligente" que absorve, repete e melhora, e se acham graça repete as vezes que forem necessárias, até se articular com precisão e se identificar o objeto pretendido com a ditongo mais adequado. Uma gracinha que ajuda a aprender, um estimulo que ajuda a falar e o mais importante a comunicar, por palavras, gestos ou atitudes. Tudo fala, da boca á ponta dos dedos dos pés. Comunica-se de todas as formas e obtém o que quer sem ter de pedir, basta apontar e articular um ditongo. Mamã, pópó, titi, papá, áb, vô ... são alguns dos presentes com que nos brinda.

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Energia (apresentação 39)

Hoje aproveitei ida a Lisboa para ver a neta mais bonita de todas, Nove da manhã lá estava no meu posto. Ela correu, estranhou um pouco, mas logo viu que era pessoa de confiança, e em menos de nada já estava no colo do avô, a saltitar por todo o lado, com a maior energia do mundo, logo cedinho. Esta menina, não chora, não faz birra, não aborrece, a gente não consegue deixar de estar com ela, tal a energia que nos comunica. Bem disposta, nada negue, tudo aceita com sorriso na cara. Tem bom feitia (por agora). Do seu lado só se sai bem disposto.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Morning has broken like the first morning

Sim rompeu hoje aqui pela planície, felizmente livre de fogos. Promete uma semana quente e cheias de praia e areia para uns, e pedras e maus caminhos para outros, É sempre assim. Desigual. Aqui pelo interior contamos mais com as segundas, do que com as primeiras. Tudo corre para uma semana de luta. Veremos se Deus apoia os audazes, os que se comprometem, ou antes os outros. As palavras deste título são de uma musica que muito gosto, de que lembro muitas vezes quando a tristeza invade e ainda por cima de um cantor que decidiu mudar tudo na vida, em pleno sucesso, o nome, a religião, o modo de vida, o aspecto exterior, para abraçar algo novo, para ele. Cat Stevens, quase 70 anos, não dirá muito a muitos, para mim continua ser o Cat Stevens de "Bad Night", "Mathew and son" ou "Father and son". Já que falamos de manhã que rompe fica aqui este belo romper de hoje. No Alentejo profundo. Em Ourique BA.

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

A furia do "like"

A discussão de opiniões agora está muito facilitada. Basta por "like" naquilo que se gosta ou não se entende. E naquilo que não percebemos ou não interessa nada passa-se à frente. Sugiro que criem um "unlike". Assim dávamos sinal de participação. Aí chegamos a este mundo a preto e branco, mas na realidade não chega a haver conversa, discussão, reflexão, análise, Qual quê ! Isso não interessa nada, Alguém diz um "bitaite", a gente acha que é assim mesmo, bolas, faz um "like", a seguir se esse "like"foi dado por conhecido, like puxa like e em menos de nada temos opinião unanime, se tanta gente "like" é porque é verdade, foi mesmo assim, são uns malandros estes gajos, só roubam, isto não pode continuar. Assim se forma uma opinião "informada", como nas aldeias as cuscuvilheiras na soleira da porta, enterram-se vivos, desenterram-se mortos.

Peixes

Hoje no ATL o tema foi um peixe que os miúdos muito apreciam, devido ao seu papel num filme, "A procura de Nemo", acontece que a procura pelo pequeno peixe palhaço tanto cresceu que o colocou em risco de extinção, para além de outros riscos já existentes. Criançada meteu mãos à obra e fizeram um aquário completo destes pequenos peixes. E num pouco de tempo estes ficaram feitos, e o aquário completo, aqui fica um exemplo.

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Dez de Agosto de Dois Mil

Nove da manhã estávamos no aeroporto, malas e malas, excesso de bagagem, dentes cerrados, olhos húmidos e a certeza de ser pra sempre, não sei se suportava a dor que sentia mas resguardava para não causar mais sofrimento. procuravamos forças onde só a fraqueza morava, procurávamos ser racionais onde a emoção tomava conta, ser lógicos onde a estupidez era insuportável. O check in foi feito depois de espera prolongada onde o nosso sonho era derretido em banho maria, para causar efeito, para completar uma noite de separação, para que mais cedo que tarde o esquecimento se instalasse, facilitasse as coisas, desse um ar inteligente áquilo que era uma incisão profunda no sitio errado do corpo. Prontamente foi pago o excesso de bagagem para que nada ficasse para tras, restos  de vida, pedaços de sonho, sons de nossa ilusão, resíduos sólidos de uma vida insustentável. Insuportável, a mágoa instalou-se no lugar da esperança, e a mágoa deu origem à perda, e a perda ao vazio. Trocaram-se olhares e sabia que para lá daquela corrente estava a palavra fim. E sem mostrar hesitação a corrente foi transposta e tu desapareceste naquela escada evitando olhar para trás. Talvez para me poupar.

terça-feira, 8 de agosto de 2017

25

Vinte cinco anos atrás estávamos tristes, envolvidos pelo sofrimento de uma morte prematura, pela revolta da partida, inapelável, sem recurso e sem regresso. Uma vida que se destroçou na vertigem da doença prolongada, como agora chamam de uma forma benevolente. Um corte com a esperança de prosseguir o sonho, com a liberdade de conhecer filhos adultos, netos, de acompanhar o desenvolvimento daqueles que se ama. E a consciência da morte não alivia, apenas tortura, por isso também foi libertação do fardo de um corpo que pesa. Sei que muitos torceram o nariz a muito do que se passou, ou supõem ter-se passado. A reação de cada um perante a força da morte é assunto seu. A morte nunca é um problema bem resolvido. Apenas desilusão, frustração e falhanço. Para quem morre e para quem sobrevive. Muito mais tarde estive também esperando a morte entrar pela porta da enfermaria. Mas eu tinha a possibilidade de também a salvação chegar antes. Aconteceu. não posso imaginar como seria se ela tivesse falhado.

Acreditar

Fecham-se portas outras se abrem. É o ciclo da vida. Depois das deceções podem vir possibilidades novas que nasceram delas, podem-se abrir portas que estiveram fechadas, e como por milagre deixam passar solução. Nem sempre isto é ingénuo, mas aqui o que interessa é o resultado. Acreditar pode dar um resultado, desacreditar só dá desgraça.

Mentalidades

Os últimos dias têm sido muito edificantes para mim. Tenho visto pessoas em stress, fora da zona de conforto, a terem de decidir e as estratégias que montam para as suas decisões ou indecisões. Como a idade também nisso tem relevância. Perante as situações de pânico a primeira opção é passar ao lado ou se possível fugir. Hoje diz uma coisa logo a seguir diz-se outra, o compromisso tomado agora, afinal amanhã já não é, um passarinho passou e disse que o vento soprava para outro lado.  Ouvi dizer que, porque não disseram que (nunca perguntou...), afinal vieram dizer que, assim não é bem como pensava, bolas, e você o que é que pensa !!! No meio contam as opiniões dos outros, mas apenas para justificar a minha que é... pira-te ! E onde ficam os meus valores, onde fica a minha palavra, onde  fica o sentido de responsabilidade, onde ficam os homens com H (e as mulheres ?) Mistério. Olha, ficam os velhos, e os que não podem sair.



quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Estado de espirito

Quando acreditamos em alguma coisa ou em alguém e isso nos trás deceção qual o estado de espirito ? O normal será revolta, vontade de vingança, querer romper com a situação que nos desiludiu, quebrar laços se for esse o caso. Outra atitude é querer recuperar a confiança naquilo que nos desiludiu ou na pessoa que não se portou bem connosco, perceber o que se passou, porque se passou, e recuperar aprendendo com a experiência mal vivida. Curioso que eu sou mais pela segunda solução. Faz-me mal alimentar ódios, é penoso para mim querer a vingança, ou a retaliação. Sou parvo, eu sei, por vezes penalizo-me porque não disse "não" na altura certa. mas detesto a queixa e a vitimização. Se não esteve certo nós, que pactuámos ou aceitámos a situação somos os primeiros culpados. Vitimas de manipulação só o são porque se deixaram manipular, terão de aprender a viver melhor a vida, prever melhor o erro, não confiar tão facilmente, serem mais perspicazes. Também não me atrai a culpa, procuro ver a situação na sua forma positiva, se a tem, e há sempre um lado bom, mesmos nos piores momentos. E as pessoas não são definitivamente más nem boas, são elas mais a sua circunstância.

Nebraska

Vão-me dizer que ando a ver filmes demais. Talvez ! Mas tenho tempo e com o calor melhor estar no AC. Desta vez vi Nebraska de Alexander Payne e fiquei empolgado. É aquele filme que todos os filhos e todos os pais deveriam ver, que devia ser mostrado em todas as aulas de educação cívica, assim como o "Daniel Blake". O filme é de 2013 e comprei na FNAC por 5 euros. Vi agora devagarinho. Vou contar um pouco. Um pai idoso quase demente, recebe uma daquelas cartas promocionais a dizer "ganhou um milhão de dólares", o resto está escrito em letras pequenas... Mas para receber tem de atravessar 3 estados e fazer 1200 km. Convence-se de que é mesmo verdade e foge várias vezes de casa para a pé ir buscar o seu prémio imaginário. Todos o tentam demover mas nada o faz recuar. Quer comprar uma carrinha, embora não conduza, e um compressor de ar, só isso, com o dinheiro, um sonho de vida. Todos o contrariam e desdenhar, mas o seu filho David não, Embora sabendo que é mentira, disponibiliza-se para ir com o pai em viagem de dias, levantar o prémio que sabe não existir, apenas para o pai viver mais uns dias de felicidade. O resto é uma história de amor de pai e filho, jamais escrita, e o epilogo final muito forte e comovedor, de gestos que não imaginamos neste mundo, movido pela cultura do dinheiro, e em que filho não desvia do seu caminho pelo pai. Uma história muito real, provando que a ficção também pode ultrapassar a realidade.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Aquarius

Quem não viu que veja, eu não tinha visto. Um filme brasileiro que nos enche, sobretudo a nós que estamos a viver aquele momento da vida em que damos já mais valor às memórias que a muitas realizações, e que ainda queremos a partir delas realizar bem os dez ou quinze anos de vida que nos faltam, antes da queda definitiva. Aquarius é um filme que se baseia na ideia simples de uma sexagenária pretender manter a casa onde sempre viveu, foi feliz numas coisa infeliz noutras, amou, teve e criou seus filhos, ouviu as suas músicas, e pretende morrer. Contra esta ideia simples e razoável, a ganância de uma imobiliária do progresso, que quer derrubar o prédio para construir uma torre de habitação de luxo. Mas para além desta história vamos desdobrando as memórias, relendo a sua relação amorosa, a sua relação com o cancro, ela é mastectomizada, e a sua relação com filhos, aquilo que lhe resta depois de anos de vida preenchida com as coisas do costume. Sónia Braga, faz aqui de Clara e penso que também de Sónia Braga ela mesmo, também vitima do cancro da mama. Faz pensar muito a quem deu muito, e no momento de se recolher não tem direito às suas memórias.