domingo, 31 de dezembro de 2017

Todo o ano num só dia (balanço pessoal)

 
Volto ao blog pra fazer um balanço.

Imaginenos que o ano de 2017 se resumia a um dia. Manhã cedo começou nublado. Logo aí recebi um estranho convite que nem sabia que ía mudar o meu dia lá para o inicio da tarde, mas como é meu hábito para com a pessoa que o fez, aceitei. Na realidade, segundo a própria tudo se resumiria a fazer uma pequena viagem por mês e dar uma ou duas horas do meu tempo. Tinha de ser, e o que tem de ser tem muita força.

A manhã foi decorrendo com muita calma. Dando pinceladas nos meus pobres trabalhos, procurando levar alguns outros a interessarem-se, e oferecendo préstimos pra uma maior ocupação das pessoas que querem mais do que o diz que disse.

Cada dia a minha neta povoava os meus dias, via pelo Skype, apreciava a sua curiosidade a sua energia contagiante a sua carinha sempre risonha e positiva.

Chegamos assim ao final da manhã. A filha regressou do UK e a neta passou a estar mais próxima, e a engraçar com o avô e ele com ela. O calor veio, e recordo o dia em que não fui ao seu primeiro aniversário. O calor era insuportável. Nesse mesmo dia, 17 de Junho, ela faz um anito, e 64 morreram em Pedrogão vitimas da brutalidade da natureza selvagem e da incompetência dos homens e da sua fraqueza face à natureza. Esse foi também um momento de reencontros. Por mero acaso, ah ah ah, encontrei uma pessoa com que partilhei vida durante um ano, há já muitos anos. Aconteceu.

O inicio da tarde deu-se com muito calor e os ecos de muitos problemas com aquele convite aceite logo cedinho. Pensei com os meus botões, numa tendência para premonições muitas vezes comprovada, e se aquela gente abandona o barco, barco onde tinha apenas alguns dedos dos pés, pois ninguém me pedia mais do que isso.

O facto é que como já tem acontecido outras vezes, o receio auto realizou-se, e fui projectado para o dilema seguinte, ou atirar a toalha ao chão e ficar com a minha consciência num farrapo, ou dar passo em frente e ficar com a saúde num frangalho, o que aliás já estava.

Assim antes do lanche, a meio da tarde, corri, junto com outros poucos, esse risco. Entrar num projecto solidário financeiramente falido, tecnicamente afundado, de gente em desmotivação, sem salário nem atenção, mas fortes e habituados a viver com muito pouco. Nem sei como suportei o impacto deste Titanic à deriva, no casco da minha frágil constituição. Mas aguentei, aguentámos e o pior foi controlado, as previsões de morte anunciada acabaram goradas,  e o lanche decorreu sobressaltado mas tranquilo. Acabei até fazendo amigos, e receber sinais de reconhecimento de pessoas que quase nem conhecia.

O final do dia aproxima-se e o reencontro virtual tornou-se mais físico. Reencontrei afectos antigos, caminhos partilhados em contextos de grande intensidade. Renovei laços e reconheci espaços, locais e olhares. Foi contagiante e senti que me foi insuflada uma dose de adrenalina que me puxou do buraco. Ainda bem. A noite cai e as perspectivas para um novo dia parecem promissoras, encontrar um equilíbrio entre prazer, obrigação, necessidade, entre a arte e o pensamento, entre amizades e afectos, reais, virtuais e outros que tais.

Pra 2018 vou ver mais o meu diabinho, vou ter mais arte no meu universo, vou ouvir mais música, vou ver Bob Dylan ao vivo (já tenho bilhete), vou fazer mais contas e contornar os momentos duros, vou fazer novos reencontros e alimentar as novas amizades. Se a saúde não trair, se o dinheiro não sumir, se a dor permitir, se a net não ruir.

Se alguém leu esta prosa cifrada, e tirou conclusões certas ou erradas, então que tenha um 2018 tão bom que sinta pena de não o ter começado já em 2017

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